terça-feira, abril 10, 2007

Petit Psaume du Matin


Dois corpos de costas voltadas no palco, encontram-se nas memórias peregrinas do mundo que percorreram. São viajantes, amantes da descoberta e das raízes que procuram. Mais que isso, são dois amigos, Josef Nadj e Dominique Mercy, dois dos grandes nomes da dança contemporânea que pisaram o palco do Teatro Municipal da Guarda (TMG), no passado dia 28 de Março, numa organização conjunta da Quarta Parede e do TMG.
Durante o espectáculo o silêncio inicial vai dissipando dando lugar a uma viagem pelas músicas tradicionais e arcaicas, que os dois amigos partilham, num corpo-a-corpo pleno de vitalidade, de humor e elegância, de invenção, mas sobretudo de poesia. Aliás, os movimentos em Petit Psaume du Matin são poéticos, até porque, segundo Josef Nadj a poesia sempre fez parte da sua vida. “Estudei literatura, adoro ler livros, sobretudo a poesia. Por isso quando faço uma peça como Petit Psaume du Matin, faço-a sempre como se fosse um poema”, confidenciou Josef Nadj.
Há um laço invisível que une Josef Nadj e Dominique Mercy em palco. A sensibilidade que circula entre os dois torna-se, mais que visível, palpável, através dos gestos delicados e dos olhares cúmplices, que segundo Dominique Mercy “resulta de um reencontro, um reencontro de amigos, de materiais, corpos e de gostos”.
Recorde-se que Petit Psaume du Matin foi idealizado em 1999 para ser um solo, contudo, com o desenrolar do processo de criação, o coreógrafo, Josef Nadj e o bailarino Dominique Mercy, descobriram que o espectáculo só fazia sentido através da partilha de experiências e por isso resolveram unir-se nesta viagem.

Os dois criam no público imagens de espaços longínquos, tal como um artesão, com a sua arte, cria um objecto.
Para o coreógrafo, o seu trabalho é na verdade como o de um artesão. “Quando preparo um espectáculo, existem dois lados, o primeiro é o de recolha de materiais, onde há absoluta liberdade para criar formas”, explica Josef Nadj, “ o outro é o de utilizar esses materiais para trabalhar o corpo”, que no fundo é o instrumento dos bailarinos.
Em Petit Psaume du Matin, os materiais são comuns: duas vassouras, algumas cadeiras, duas molduras e músicas oriundas do Cambodja, Macedónia, Egipto, Roménia, Hungria…O resultado é um trabalho onde a descoberta do mundo, é no fundo, a descoberta e o encontro com o outro.

Inês Pombo