quarta-feira, março 14, 2007

Mensagem Dia Mundial do Teatro

Descobri o amor pelo teatro, esse mundo fascinante, desde muito novo, quando me senti atraído para ele como autor, encenador e actor, durante os meus primeiros estudos. Esses começos surgiram de forma espontânea e considero-os unicamente como actividade escolar que enriquece o espírito e a razão. Só me apercebi da sua verdadeira essência quando levei a cabo a composição, a encenação e a interpretação duma obra teatral de carácter político que provocou a cólera das autoridades da época, que acabaram por confiscar tudo o que existia no teatro e procederam ao seu encerramento diante dos meus próprios olhos. O espírito que me habitava, não tinha outra escolha, face ao espectáculo dos soldados em armas, senão refugiar-se dentro da minha consciência e aí se ancorar. Compreendi então a força do teatro e todo o seu poder, em especial frente àqueles que não toleram a opinião alheia, e fiquei com a certeza do papel sério e importante que ele pode desempenhar na vida dos povos.Desde então essa fé penetrou profundamente na minha consciência e aí se enraizou durante todos os anos dos meus estudos no Cairo onde mergulhei em tudo o que se escrevia sobre o teatro e onde assisti aos mais diversos espectáculos. Esta tomada de consciência aprofundou-se também nos anos posteriores, continuando a interessar-me pelo teatro duma forma geral.Apercebi-me, através das minhas leituras sobre o teatro, desde a Antiguidade grega até aos nossos dias, da magia potencial que encerram os mundos do teatro, bem como da sua capacidade de sondar as profundezas da alma humana e de revelar os seus mistérios, o que firmou em mim a convicção profunda de que o teatro constitui, nesta perspectiva, um factor de unificação dos seres humanos, e de que o homem pode, através do teatro, cobrir o mundo da amizade e da paz e abrir os horizontes de um diálogo entre os povos sem distinção de raça, cor ou de credo. E foi assim que ele se tornou para mim um factor suplementar para aceitar o Outro tal como ele é. Compreendi também que o bem une os seres humanos, enquanto o mal os divide. Se a lei do teatro é fundada no combate entre o bem e o mal na sua essência, a natureza humana sã, por seu lado, tende muitas vezes para o bem e procura essa via.
As guerras que feriram a humanidade desde épocas antigas encontram as suas causas profundas nas intenções maléficas que não apreciam a beleza. E a beleza perfeita não se encontra em nenhuma outra arte como na do teatro. Porque ele é o receptáculo que contém todas as artes. Aquele que não saboreia a beleza não consegue atingir o valor da vida; e o teatro é a vida.Como é grande, hoje em dia, a necessidade de rejeitar todas as guerras absurdas, em todas as suas formas, e as divergências dogmáticas que atiçam, na ausência dum travão moral duma consciência viva, o espectáculo das violências e dos assassinatos cegos que estão à beira de submergir o planeta inteiro, com o seu cortejo de grandes desigualdades entre uma riqueza excessiva e uma miséria negra, entre as partes do mundo sinistradas por epidemias endémicas, ou por combater os problemas da desertificação e da seca! Tudo isto se passa na ausência dum diálogo autêntico entre nós para fazer deste mundo em que todos vivemos, um lugar melhor.Amigos do teatro, desencadeou-se uma tempestade sobre o nosso planeta pela violência dum turbilhão feito de desconfiança e suspeita e ela ameaça impedir-nos de ter uma visão clara das coisas. As nossas vozes estão sufocadas e não chegam aos ouvidos de cada um por causa da violência do tumulto que se ergue à nossa volta e da divisão dos povos. Esta tempestade arrisca desviar-nos para nos afastar uns dos outros, não fora o papel do teatro fundado essencialmente sobre o diálogo. Devemos portanto opor-nos àqueles que fazem soar as trombetas para desencadear estas tempestades, não para os destruir, mas para nos afastar dessas atmosferas poluídas e para consagrar os nossos esforços, pela comunicação, no estabelecimento de relações de amizade com aqueles que preconizam a fraternidade entre os povos.Nós somos, enquanto seres humanos, votados ao desaparecimento, enquanto o teatro perdurará enquanto houver vida.

Mohammed Al Qasimi, Sultão e membro do Conselho Supremo dos Emiratos Árabes Unidos e governador de Sharjah.